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terça-feira, 10 de outubro de 2017

Um teste para o ego com sabor a chocolate


O Monge e o sorvete de chocolate






Joel havia chegado já fazia três anos a uma das comunidades budistas mais antigas do Tibete, e ali almejava ser treinado para se transformar em um monge exemplar.

Todos os dias, na hora do jantar, perguntava ao seu mestre se no dia seguinte aconteceria a cerimônia da sua ordenação. “Você ainda não está pronto, primeiro precisa trabalhar a humildade e dominar o seu ego”, respondia o seu mentor.

Ego? O jovem não entendia por que o mestre se referia a seu ego. Achava que merecia ascender no seu caminho espiritual já que meditava sem cessar e lia diariamente os ensinamentos de Buda.

Um dia, o mestre imaginou um jeito de demonstrar aos seu discípulo que ele ainda não estava pronto. Antes de iniciar a sessão de meditação anunciou: “Quem meditar melhor terá como prêmio um sorvete”. De chocolate”, acrescentou o ancião.

Logo após um breve alvoroço, os jovens da comunidade começaram a meditar. Joel queria ser o melhor a meditar dentre todos os seus colegas. “Dessa forma, mostrarei ao mestre que estou preparado para a cerimônia. E poderei tomar o sorvete”, concluiu o discípulo.

O jovem budista tenta meditar

Joel conseguiu se concentrar na sua respiração, mas ao mesmo tempo visualizava um grande sorvete de chocolate que ia e vinha como se estivesse em um balanço. “Não é possível, preciso parar de pensar no sorvete ou outra pessoa vai ganhá-lo”, repetia para si mesmo.

Com muito esforço, Joel conseguia meditar por alguns minutos nos quais simplesmente seguia o compasso da sua respiração, mas logo em seguida imaginava um dos monges tomando o sorvete de chocolate. “Droga! Sou eu que preciso conseguir esse sorvete!”, pensava o jovem angustiado.

Quando a sessão acabou, o mestre explicou que todos tinham feito bem a tarefa, exceto alguém que havia pensado demais no sorvete, isto é, no futuro. Joel se recompôs antes de falar:

– Mestre, eu pensei no sorvete. Eu admito. Mas como você pode saber que fui eu quem pensou demais?

O ego se revela

– Não tenho como saber. Mas posso ver que você se sentiu tão afetado a ponto de se levantar e tentar se colocar por cima dos seus colegas. Assim, querido Joel, é que age o ego: sente-se atacado, questionado, ofendido… e quer ter sempre razão no jogo de ser superior aos outros.

Naquele dia, Joel aprendeu que ainda tinha um longo caminho a percorrer. Trabalhou a sua humildade e os impulsos do ego. Viveu no presente e procurou não ficar por cima dos outros. Também entendeu que não lhe convinha se identificar com suas conquistas.

Assim, com trabalho e paciência, chegou o grande dia. Foi aquele no qual o mestre bateu à sua porta para lhe anunciar que finalmente estava preparado para o que tanto havia almejado.

Quando chegou no templo não encontrou ninguém ali. Apenas uma pequena plataforma e sobre ela… um sorvete de chocolate. Joel pôde apreciar o sorvete agradecido, sem se sentir decepcionado. E em seguida, foi ordenado monge.

A humildade tem seu prêmio

Cada pessoa tem o seu próprio sorvete de chocolate: aquilo que almeja alcançar. O problema está em ter a mente posto nele, nos impedindo de desfrutar o presente.

Tendemos a confundir nossas conquistas com nosso valor e a nos identificarmos com elas. O ego se encarrega de nos empurrar a desejar ficar acima dos outros e a nos ofendermos se alguém nos aponta algum erro.

Se conseguirmos detectar nosso próprio ego e desativá-lo, automaticamente abandonamos a necessidade de criticar, discutir, competir ou julgar. Assim, nos desfazemos do papel de vítimas, do sofrimento que representa não cumprir com as demandas do ego… E conseguiremos desfrutar dos sorvetes!


Beijos  

sexta-feira, 6 de outubro de 2017

História de Vida

Linda História Chinesa



Uma velha senhora chinesa possuía dois grandes vasos, 
cada um suspenso na extremidade de uma vara que ela carregava nas costas.

Um dos vasos era rachado e o outro era perfeito.
Este último estava sempre cheio de água ao fim da longa caminhada da torrente até a casa, enquanto aquele rachado chegava meio vazio.

Por longo tempo a coisa foi em frente assim, com a senhora que chegava em casa com somente um vaso e meio de água.

Naturalmente o vaso perfeito era muito orgulhoso do próprio resultado e o pobre vaso rachado tinha vergonha do seu defeito, de conseguir fazer só a metade daquilo que deveria fazer.

Depois de dois anos, refletindo sobre a própria amarga derrota, falou com a senhora durante o caminho: 
'Tenho vergonha de mim mesmo, porque esta rachadura que eu tenho me faz perder metade da água durante o caminho até a sua casa...'

A velhinha sorriu:

'Você reparou que lindas flores tem somente do teu lado do caminho? 
Eu sempre soube do teu defeito e portanto plantei sementes de flores na beira da estrada do teu lado e todo dia, enquanto a gente voltava, tu as regavas.

Por dois anos pude recolher aquelas belíssimas flores para enfeitar a mesa.
Se tu não fosses como és, eu não teria tido aquelas maravilhas na minha casa.

Cada um de nós tem o próprio específico defeito. 
Mas o defeito que cada um de nós tem é que faz com que nossa convivência seja interessante e gratificante.


Moral da história: É preciso aceitar cada um pelo que é e descobrir o que tem de bom nele.




quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Conto:A loja de Cachorrinhos.

A LOJA DE CACHORRINHOS

Esse tipo de anúncio sempre atrai as crianças e logo um menininho apareceu na loja perguntando:


O dono de uma loja colocou um anúncio na porta:     Cachorrinhos `a venda".                                                                                                                                                                                                      
Esse tipo de anúncio sempre atrai as crianças e logo um menininho apareceu na loja perguntando:
- Qual o preço dos cachorrinhos?

O dono respondeu:
- Entre R$ 30,00 e R$ 50,00.

O menininho colocou a mão em seu bolso e tirou umas moedas:
- Só tenho R$2,37.
- Posso vê-los?. O homem sorriu e assobiou.

De trás da loja saiu sua cachorra, correndo, seguida por cinco cachorrinhos. 
Um dos cachorrinhos estava ficando consideravelmente para trás.

O menininho, imediatamente, apontou para o cachorrinho que estava mancando.
- O que aconteceu com esse cachorrinho??? 

O homem explicou que quando o cachorrinho nasceu o veterinário falou que ele tinha uma perna defeituosa e que andaria mancando pelo resto de sua vida.

O menininho emocionou-se e exclamou:
- Esse é o cachorrinho que eu quero comprar!.

E o homem respondeu:
- Não, você não vai comprar esse cachorro. Se você realmente o quer, eu vou dá-lo de presente.

Mas o menininho não gostou 
Olhando direto nos olhos do homem falou:
-Eu não quero que você me dê de presente. Ele vale tanto quanto os outros cachorrinhos e eu pagarei o preço. Agora vou lhe pagar meus R$ 2,37 e a cada mês darei R$ 0,50 até que tenha pago por completo.

O homem respondeu:
- Você não quer de verdade comprar esse cachorrinho filho. 

Ele nunca será capaz de correr, saltar e brincar como os outros cachorrinhos.

O menininho agachou-se e levantou a perna de sua calça para mostrar a perna esquerda, cruelmente retorcida e inutilizada, suportada por um grande aparato de metal. 

Olhou de novo para o homem e disse:
- Bom, eu também não posso correr muito bem, e o cachorrinho vai precisar de alguém que o entenda.

O homem estava agora envergonhado e seus olhos encheram-se de lágrimas....

Sorriu e disse:
- Filho só espero que cada um destes cachorrinhos tenha um dono como você. Na vida não importa como somos. 

O que vale é que alguém nos aprecie  e nos aceite como somos.

Amando-nos incondicionalmente.

Um verdadeiro amigo é aquele que chega quando o resto do mundo já se foi.


Espero que tenham gostado desse delicioso conto!
Beijos Até a próxima!
Três Amigas

sábado, 16 de setembro de 2017

O vestido azul

O vestido azul






Em um povoado muito pobre de uma cidade distante, morava uma garotinha muito bonita, mas sua mãe parecia não ter muito cuidado e a criança quase sempre andava suja. Além disso, suas roupas eram velhas e maltratadas. A garotinha estudava na primeira série da escola local e certo dia, seu professor ficou sensibilizado com a sua situação. Ele pensou:
Como é que uma criança tão bonita quanto essa pode vir tão desarrumada para a escola?
No final daquele mês, assim que recebeu o seu salário, o professor tomou uma decisão: foi até uma loja, comprou um vestido azul e deu de presente à menina. E ela ficou ainda mais linda naquele vestido! Ao ver a filha vestida daquele jeito, a mãe percebeu o quanto era ruim mandar a garota para a escola tão suja e despenteada. Assim, passou a dar banho nela todos os dias, pentear seus cabelos, cortar as unhas, escovar os dentes... Naquele mesmo final de semana, o pai da menina disse à esposa:
Querida, você não acha vergonhoso que a nossa filhinha, sendo tão bela e arrumada, more em uma casa como esta, toda suja e caindo aos pedaços? Vamos combinar uma coisa: você cuida da faxina e eu, nas horas vagas, vou pintar as paredes, arrumar a cerca e dar um jeito no jardim.
Passado algumas semanas, a casa da família da garotinha do vestido azul se destacava na vila! As flores que enchiam o jardim e a limpeza do quintal eram uma atração para todos que passavam ali. Diante disso, os vizinhos da menina ficaram constrangidos por morar em casas mal acabadas e feias e decidiram também pintar as fachadas, plantar árvores e flores...
Em pouco tempo, toda a vila estava transformada; nem parecia a mesma de meses atrás. Então, um senhor muito influente na região percebeu a dedicação daquela comunidade e achou que ela merecia um auxílio das autoridades locais. Foi até o prefeito e contou a ele tudo o que estava acontecendo. O senhor saiu da prefeitura com uma autorização para formar uma comissão para avaliar quais eram as melhorias que aquela vila precisava. No final do mesmo ano, o chão de terra foi substituído por asfalto, o esgoto a céu aberto foi canalizado, as ruas receberam iluminação pública e até uma bela praça foi construída em frente à igreja.
Vendo aquela vila tão bem cuidada e tão bela, quem poderia pensar que tudo aquilo começou com um vestido azul? O professor tinha apenas a intenção de ajudar a garotinha, mas acabou fazendo um bem muito maior: transformou a vida de uma população inteira!
Quando nós fazemos o bem às pessoas, muitas vezes não percebemos a mudança que causamos. Você já ouviu falar da teoria "Efeito Borboleta"? No ano de 1963, um cientista chamado Edward L. analisou uma teoria que ficou conhecida como "Efeito Borboleta". Segundo ela, o bater das asas de uma simples borboleta poderia mudar o curso natural das coisas e talvez, até provocar um furacão do outro lado do mundo! Já imaginou isso? Por isso reflita: se até o movimento das asas de um inseto tão pequeno, pode, teoricamente, causar tamanhas consequências, será que conseguimos medir o que uma simples atitude nossa, pode influenciar na vida de uma pessoa?
Talvez uma oração, uma palavra amiga, um telefonema, um sorriso, um aperto de mãos, uma lágrima nos olhos etc. Não importa o gesto. Devemos sempre acreditar que pequenas atitudes podem causar grandes transformações! A cada dia Deus nos dá novas chances de fazermos o bem para os outros. A Bíblia diz que "somos cooperadores de Deus" (1 Co 3:9). Ou seja, Ele quer nos usar para realizar Sua obra aqui na Terra. Deus não fará nada que esteja ao nosso alcance, mas Ele nos capacitará para fazermos a diferença neste mundo tão carente de amor!

quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Histórias de Vida.

A teia da Aranha 







Conta a história de um homem que estava sendo perseguido numa mata por vários malfeitores que queriam assassiná-lo entrou correndo numa pequena fenda de montanha, sem saber que era um beco sem saída.
Sem ter para onde ir, nem podendo voltar, escondeu-se atrás de um pequeno arbusto, agachou-se e clamou:
– Óh, Deus, tenha misericórdia de mim. Coloca, Senhor, um anjo na entrada desta fenda. Um não, Senhor, dois… melhor pensando, uma dúzia. Somente um grande milagre poderá me salvar.
Enquanto ouvia o aproximar-se do som dos pesados passos de seus perseguidores, reparou que uma aranha começou a tecer uma teia na entrada do lugar onde havia se escondido. Ficou muito irritado e começou a orar revoltadamente:
_ Senhor eu pedi um exercito de anjos e o senhor me mandou uma aranha!? esse é o valor que eu tenho?
Eu vou morrer aqui nas mãos destes homens.
Quando os malfeitores aproximaram-se do local, uns deles disse para os demais:
– Aí ele não entrou, tem teia de aranha… Venha, vamos por ali – E se foram embora.
Moral da História:Nunca despreze as pequenas soluções apresentadas por Deus a você!

Beijos no coração meu povo.Espero que tenham gostado.
Até a Próxima.

domingo, 22 de setembro de 2013

Conto do João Jogador

João Jogador.





Uma mulher e um homem tiveram um filho. Quando ele nasceu puseram-lhe o nome de João. Desde o tempo em que era pequeno até crescer, só queria jogar cartas.
Deixou então a casa dos pais para viajar, procurando quem quisesse jogar cartas com ele. Todos lhe chamavam João Jogador. Depois de ter ganho a todos dentro do seu reino, foi de reino em reino, sempre a jogar cartas. No jogo de cartas, ninguém lhe ganhava. Vivia como um rei.
Era muito vaidoso por causa disto. Um dia foi para terra estrangeira. Lá falou pomposamente de si mesmo, “Deixem saber que se um homem aparecer aqui para jogar eu não lhe viro as costas, deixem saber!” Assim que ele acabou de dizer estas palavras, apareceu à sua frente um gigante. O gigante disse-lhe “Amigo! Estás a desafiar-me? Eu aceito.”João disse-lhe “É o que desejo realmente.”
Os dois começaram a jogar. No início, o gigante começou a perder. Apostou as posses da sua casa, como ouro e prata, assim como todas as outras coisas, e tudo João ganhou. A seguir, apostou todas as outras posses e cavalos, os seus búfalos e porcos; João ganhou tudo. Depois o Gigante apostou a sua mulher, os seus filhos, os seus criados; João ganhou todos. Não havendo mais nada para apostar, o Gigante apostou um dos seus braços, depois o outro braço e perna e finalmente todo o corpo. Tudo João ganhou. Só lhe faltava a cabeça. Depois de pensar, o Gigante resolveu apostar a cabeça.
Então o Gigante começou a ganhar. Primeiro o Gigante recuperou o seu corpo. Depois ganhou de volta a sua mulher, os seus filhos, os criados de sua casa. Ganhou sucessivamente a João, até ele começar a perder tudo o que tinha ganho nos outros reinos. Não havendo mais nada a apostar João apostou então o seu corpo, que o Gigante também ganhou.
Depois disto, o Gigante disse a João “Amigo, agora és meu! Por isso, dentro de setes dias deves chegar a uma porta de ferro no meio das altas montanhas! Se não voltares eu mesmo irei à tua procura!” Dito isto o Gigante desapareceu.
João não sabia bem onde ficava esta terra. Depois de ter pensado, foi perguntar às pessoas. Talvez alguém soubesse onde era a terra da Alta Montanha e da Porta de Aço, mas ninguém sabia. Pensou “Talvez o Gigante me faça mal, porque está quase na altura dele aparecer.”
De manhã saiu outra vez. Decidiu perguntar aos animais. Talvez algum soubesse desta terra. Os animais responderam que não sabiam onde ficava esta terra. Enquanto falava com os animais levantou os olhos para o céu e viu uma águia voar na sua direção  João perguntou-lhe “ Hoy! Amiga águia, sabes onde fica a Montanha Grande e a Porta de Aço?”
A águia respondeu “ Sim sei! Vim agora mesmo de lá!”
João ficou radiante. Perguntou à águia se o podia levar até lá. A águia disse que sim, mas essa terra era muito distante, levaria três dias e três noites a lá chegar, por isso, seria necessário levar provisões. João perguntou-lhe quais eram as provisões necessárias, ao que a águia respondeu “ Um barril de água e um barril de carne. Avisas quando estiver tudo pronto e partiremos imediatamente.”
A águia disse-lhe, “ Bem, podemos ir já. Carregas as provisões e pões tudo em cima de mim e depois sobes. Partiram. Já no ar, a águia disse-lhe “ quando eu te disser fome tu serves-me água e quando eu te disser sede tu partes-me um pedaço de carne.”
Voaram tempos e tempos seguidos. De repente a águia exclamou “Estou com fome” e João retirou um pouco de água que deu à águia. Pouco tempo depois a águia disse “Estou com sede” e João cortou carne e deu-lha. Viajaram constantemente durante três dias e três noites. Ainda havia um pouco de água, mas já não havia carne. A águia sentiu que ele estava muito cansado então disse-lhe “Estou com sede”. João viu que não havia mais carne então cortou com uma faca uma porção da sua perna e deu à águia. Quando viu a carne a águia perguntou a João “ Que tipo de carne é esta com este sangue?”
João respondeu “ É a minha perna, porque já acabou a carne”.
A águia respondeu “Não posso comer da tua perna. Prefiro não comer nada. De qualquer forma ainda temos água suficiente para chegar ao nosso destino” Pouco depois chegaram à Alta Montanha e Porta de Aço. A águia levou João directamente para casa do gigante no meio de uma montanha solitária, uma casa com uma única porta de aço. Ali, João agradeceu muito sinceramente à águia que partiu imediatamente.
Depois da águia ter partido, João encaminhou-se para a porta do Gigante. O próprio Gigante abriu-lhe a porta e disse-lhe “ Amigo, tens sorte! Caso contrário, serias posto entre os meus dentes. Olha! Já estava vestido para te ir procurar. Só faltava calçar os sapatos. Entra para poderes começar a trabalhar amanhã!”
Depois de ter entrado, o gigante mostrou-lhe toda a casa. Por último trouxe-o para um lugar por baixo do quarto da sua filha mais nova. “ Ficas aqui! Amanhã, às sete horas vens para ouvir as ordens.”
O gigante e a sua mulher tinham sete filhas, todas tão más como eles os dois. Só a mais nova tinha bom coração. Chamavam-lhe Bui Iku, mas o seu nome verdadeiro era Flor Branca. Ela tinha muito bom coração e fazia bem a toda a gente, por causa disso lhe deram aquele nome.
Às sete horas João foi ao quarto do gigante para ouvir as ordens que lhe disse “Tenho o desejo de comer mangas maduras. Amanhã as sete horas estás aqui com as mangas senão morres.”
Depois de ouvir isto João partiu imediatamente à procura das mangas. Procurou por todo o lado mas não encontrou nada porque ainda não era a estação delas. Á medida que o dia foi passando João preocupou-se muito e pensou que talvez no dia seguinte o gigante o fosse matar.
Durante a noite chorou e chorou e a filha mais nova ouviu-o chorar. À meia-noite, quando todos estavam deitados, ela veio ao quarto dele perguntar porque estava ele a chorar. Então ele contou-lhe o pedido que o pai lhe tinha feito e disse-lhe que durante todo o dia tinha percorrido aquela região à procura das mangas mas que não tinha encontrado nada, porque não era a estação delas. “ Talvez amanhã o teu pai me coma mesmo” Depois disto chorou com tanta força que Bui Iku começou também a chorar.
Depois disse-lhe “não tenhas medo. Agarra esta semente de manga e planta-a no chão. Depois os dois olharam juntos a semente que ele tinha plantado no chão e esperaram. Depressa uma árvore saiu do chão dando flor, e depois deu fruto. Eles continuaram a observar a árvore. Os frutos cresceram muito até amadurecerem e cairem no chão. Depois a rapariga mandou-o apanhar a fruta e dirigiu-se para o seu quarto, mas antes avisou-o “ Não contes nada a ninguém, isto fica entre os dois”.
Às sete horas João dirigiu-se aio quarto do gigante. O gigante veio abrir-lhe a porta e disse-lhe “Tens sorte João! Já não vais ser posto entre os meus dentes! Basta! Podes ir. Dentro de momentos vens cá para receber outra ordem. ”Ao meio-dia o Gigante chamou-o e disse-lhe “A minha mulher perdeu o seu anel de ouro no pântano perto da montanha. Deves ir procurá-lo e amanhã às sete horas trazes cá o anel, caso contrário, morres.”
João sabia que este pântano era muito grande e estava cheio de crocodilos. Ainda assim tentou lá ir, no entanto os crocodilos, muito ferozes não o deixaram aproximar e tentaram morder-lhe. João ao fim do dia voltou para o seu quarto e chorou baixinho, durante muito tempo. A meio da noite Bui Iku veio ao seu quarto e perguntou-lhe “João porque choras?” João então contou-lhe o que o gigante lhe tinha pedido e como tinha em vão tentado recuperar o anel, pois os crocodilos nem sequer o tinham deixado entrar na água. Bui Iku disse-lhe “ Não tenhas medo. Agarra o meu anel e põe-no no teu dedo, depois volta ao pântano e se algum crocodilo te quiser fazer mal mostra-lhe o meu anel. João voltou ao pântano e quando os crocodilos se dirigiram a ele, mostrou-lhes o anel fazendo com que todos se escondessem imediatamente nos seus ninhos. Entrou dentro do pântano e não demorou muito a encontrar o anel perdido.
Às sete horas em ponto dirigiu-se ao quarto do Gigante que quando viu o anel ficou muito admirado. “A tua boa sorte persegue-te, senão comia-te. Voltas cá mais tarde para receber outra ordem”. Ao meio-dia, o Gigante chamou-o e mostrando-lhe um cavalo selvagem disse-lhe “Amanhã às sete horas montas este cavalo e tens que o domar”. João achou que seria bastante difícil pois nunca tinha domado um cavalo selvagem. Foi para o quarto pensar como deveria fazer. A meio da noite, enquanto estava absorto nos seus pensamentos, Bui Iku veio ao seu encontro. Perguntou-lhe o que o preocupava, ao que ele respondeu “Até hoje nunca domei um cavalo, e não sei como fazê-lo”. A rapariga respondeu “João ouve-me, os meus pais sabem que eu sou responsável por tudo o que fizeste até agora, então pediram-te para domares o cavalo de forma a encontrares a morte. Mas não te preocupes. O cavalo é feito de nove de nós. O meu pai será a cabeça do cavalo, a minha mãe será o pescoço do cavalo, as minhas irmãs serão os lados do cavalo, e eu serei a cauda do cavalo. Assim, quando conduzires este cavalo deves-lhe dar muitas pancadas na cabeça, no pescoço, nas costas, em todo o cavalo. Dá-lhe uma verdadeira sova. Deves lembrar-te, não toques na cauda do cavalo. Faz como te digo e no fim veremos!”
Então de manhã cedo João foi montar o cavalo. Levou consigo uma cana e uma pequena faca. O cavalo fez tudo para o deitar abaixo, no entanto, João aguentou-se e bateu no cavalo com a cana e bateu ainda mais. Espetou a faca várias vezes na cabeça do cavalo e nas outras partes. Lutou muito até suor preto sair do cavalo. Quando viu isto parou, porque o cavalo não conseguia andar mais. Vendo o cavalo neste estado, João desmontou-o e foi para o seu quarto. Durante a noite Bui Iku veio ao seu quarto e disse-lhe “Estão todos muito doentes em minha casa. Esta é a melhor altura para fugir. Vai ao estábulo e traz de lá um cavalo. O cavalo que deves trazer é um cavalo magro que se chama Pensamento. Não tragas o mais gordo que se chama Vento. Não te demores! Vai depressa!”
Mas quando João chegou ao estábulo viu que o cavalo Pensamento era mesmo muito magro e pensou que não aguentasse com os dois. Então trouxe o cavalo mais gordo. Quando Bui Iku o viu disse-lhe muito assustada “ Não é este, o outro é mais rápido”, mas João respondeu-lhe que achava que o outro cavalo não aguentaria com os dois, por isso tinha trazido aquele. Bui Iku disse-lhe “ Não importa. Vamos já porque está quase a nascer o sol”. Antes de sairem, ambos puseram saliva dentro de uma casca de coco e puseram-no dentro do quarto de Bui Iku.. Depois partiram. Entretanto, o gigante chamou por Bui Iku. A saliva respondeu “Estou aqui! Estou aqui!”. Depois chamou por João e também a sua saliva respondeu “Estou aqui! Estou aqui!”. Assim continuou até ao amanhecer, até que a saliva secou. O gigante então chamou novamente. Como se ninguém respondesse a mulher do gigante cheia de medo disse-lhe “Eles fugiram”.
O gigante mandou espreitar nos quartos que estavam vazios.
Furioso, o gigante foi a procura deles. Montou o seu cavalo Pensamento. Ele só tinha uma coisa no pensamento, apanhá-los. Bui Iku e João, de repente, sentiram um vento muito forte e Bui Iku disse-lhe “Temos que nos esconder, porque o meu pai vem aí.” Então Bui Iku fez o cavalo mudar de direcção e transformar-se num jardim. Transformou-se em vegetal e João pôs-se a regar o vegetal.
Quando o gigante chegou, entrou no jardim e perguntou a João, sem o reconhecer, se ele tinha visto um homem e uma mulher passar, montados num cavalo, por ali. João, fazendo de conta que não percebeu, respondeu-lhe que o seu vegetal era muito pequeno e não lhe poderia vender. Achando que o homem tinha percebido mal, interrogou-o outra vez. Obteve a mesma resposta. Perguntou ainda uma terceira vez e a resposta foi a mesma. Então o gigante voltou para casa.
Quando chegou a casa a mulher perguntou-lhe se tinha encontrado a filha e João. Ele disse que não. A única coisa que encontrei foi um senhor Ninguém, um vegetal e um jardim. Percebendo o que tinha acontecido, a mulher explicou-lhe que o jardim era o cavalo, o vegetal era a rapariga e o homem era João. Convenceu-o então a voltar a sair, pois deveria encontra-los na estrada, a fugir.
Então o gigante voltou à estrada e eles sentiram o vento regressar novamente. “Rápido temos que nos esconder” disse a rapariga. Bui Iku transformou o seu cavalo num tronco de palmeira . Ela transformou-se em ira e João começou a escavar no tronco.
Entretanto o gigante chegou e perguntou-lhe “ Hoy! Amigo! Viste um homem e uma mulher a cavalo passar por aqui? João respondeu “Não te posso vender sumo da palmeira porque só tenho um pouco.” Então o gigante perguntou-lhe outra vez a mesma coisa pensando que o homem não tinha percebido. Perguntou-lhe várias vezes até João enfurecido lhe responder que não lhe podia vender sumo de palmeira, por isso que se fosse embora!
Quando chegou a casa a mulher perguntou-lhe se tinha encontrado a filha e João. Ele disse que não, que só tinha encontrado um homem a raspar a casca de uma palmeira e contou-lhe o estranho episódio, dizendo-lhe que o homem pareceu muito zangado. Mais uma vez a mulher percebeu tudo e, explicando ao gigante, convenceu-o a voltar a procurá-los.
Bui Iku e João continuavam a viajar e entraram nos limites de uma terra cristã.
Bui Iku novamente sentiu o vento a soprar. Desta vez ela transformou o cavalo numa capela, transformou-se em sino e João no homem que toma conta da capela. De repente o gigante apareceu. Viu João e perguntou-lhe: “Hoy! Amigo! Talvez tenha visto uma mulher e um homem montados num cavalo a passar?” João respondeu “ Quer aceitar o cristianismo?” O gigante tornou “ Não amigo! Só lhe perguntei se viu passar por aqui uma mulher e um homem a cavalo?” João disse “Quer confessar-se?” E o gigante “Não!! Só perguntei se por acaso viu um homem e uma mulher a cavalo??!!” Então João respondeu “Você continua a querer perguntar, porque espera aqui?” Então João tocou o sino e as pessoas duma aldeia começaram a juntar-se à frente da Igreja. Vendo tanta gente, o gigante resolveu voltar a casa.
Mais uma vez, contou à mulher o que se tinha passado e mais uma vez ela lhe explicou quem eram na verdade o homem, o sino e a igreja. Mais uma vez o convenceu a voltar a procurar a filha e João. “ Mas desta vez irei contigo!!” disse a mulher.
Ditas estas palavras partiram. E João Jogador e Bui Iku que tinham regressado à sua viagem sentiram o vento levantar-se de novo, mas desta vez acompanhado por chuva. “Talvez desta vez a minha mãe também venha com meu pai. Acho que é isso que esta chuva quer dizer.” E quase ainda não tinha acabado de falar quando viu os pais aproximarem-se. “Bui Iko! Bui Iko!” gritou a mãe. Então Bui Iko disse a João “Depressa, dá-me a minha garrafa de água. A que carregamos connosco para beber.” João agarrou na garrafa e deu-lha. Ela abriu-a e começou a despejá-la no chão. De repente, a água começou a engrossar de caudal até se tornar numa ribeira cujas águas começaram a empurrar tudo com violência. O gigante e a sua mulher foram arrastados pelas águas para o mar e quando morreram, o vento parou e também parou a chuva.
Bui Iko e João continuaram a sua viagem até chegarem a uma grande cidade, nessa terra cristã, onde se estabeleceram. Rapidamente, se casaram, e trabalharam para o melhoramento de todos. Cedo, todos perceberam que eles eram boas pessoas.
Passado algum tempo, o rei daquela terra morreu, e como não tinha filhos, os homens sábios reuniram e tornaram o casal nos governantes do reino. Todos ficaram muito felizes com isto e celebraram convidando os reis dos reinos vizinhos para a festa que durou sete dias e sete noites. Muitos búfalos foram mortos durante as celebrações e quando estas acabaram Bui Iko e João Jogador começaram a governar o reino.
Todos ficaram felizes.

Drama Humilde

Desfeito um sonho (drama e ficção)


Achei muito bacana,e estou compartilhando com Vocês!!


1 – As manhãs costumam ser doces.

Meus olhos se abrem em grande esperança, o sol pela janela enche meu quarto, um brilho que me obriga a abrir os olhos pesados, do sono tranqüilo que tive esta noite. Não resisto o convite, não posso perder nem mais um segundo, num pulo saio da minha cama, sei que é hora de viver. Meu quarto é pequeno, mas cabe o que preciso o básico da minha vida.

Abro a janela e de imediato precipito minha cabeça a fora, um vento suave de manhã com cheirinho de flores doces, meu rosto se ilumina do calor amigo que me acaricia com seus delicados dedos amarelos e quentinhos, fecho os olhos para senti-lo melhor, dou um delongado suspiro, que bom... Não resisto a um sorriso faceiro que me vem de espontâneo, penso: – “Como é bom estar vivo”.

Por um instante, penso que a vida é só isso, sentir o bom e agradável momento, mas me lembro, com o dia gostoso, vêm às responsabilidades danosas. Fecho a janela, pois hoje em dia, sair de casa e deixa-la aberta é convite para os ladrões, nesse instante volto à realidade e vejo que o mundo não é doce como o cheiro da manhã, o qual acabei de sentir e já se perdeu pelo vento.

Ando em direção ao meu dono, ao meu carrasco, acredito que este é o patrão de todos os homens, o relógio, as horas, o tempo. Somos seus escravos, e nada podemos fazer contra. O seguimos para tudo, e ele passa tão depressa, que não prestamos atenção ao que a nossa volta muda, quando nos damos conta, já se foi. Se o tempo é amigo ou inimigo, eu não sei dizer ao certo, mas sei que causa medo e angustia grande parte das vezes, pelo menos, é o que eu sinto.

Horas, sim já estou atrasado, como todos os dias. Conhece alguém lerdo? Se você conhece, sabe como sou; devagar, paciente e claro, atrasado. Às vezes esqueço que o tempo manda em mim também. Sei que não me resta minutos suficientes; por isso, nem banho posso tomar, apenas lavo meu rosto, escovo meus dentes, troco de roupa, café? Hoje não vai dar, na verdade, nunca dá. Meu atraso é tamanho, que só posso tomar café na padaria ao lado do trabalho. Arrumado? Nem tanto. Bagunçado? Isso também não. Sou aquele conhecido arrumadinho, o simples me agrada mais.

Pronto! Já me basta de atrasos. Agora tenho de sair. Vou enfrentar a selva. Não, não moro no meio do mato. Eu moro na cidade. Digo selva, porque é isso que a cidade é, uma selva de pedras, tijolos e asfalto. Caminho até o ponto de ônibus, digo caminho mesmo estando atrasado, porque não sei correr, isso não é pra mim não.

Ônibus, transporte? Sinceramente, para mim, é uma carroça puxada por cavalos mancos, me sinto como se estivesse esmagado, sufocado no aperto do “calor humano” ou empurrões desumanos. E o trânsito então, miserável! Todos os dias, se não me bastasse o atraso natural de minha lerdeza, ainda suporto o trânsito. O tempo passa, como sempre. Chega meu ponto, luto no corredor para alcançar a porta e “ufa”, finalmente consigo sair. Tem dias que saio quase cambaleante, pois o sufoco é demais.

Atravesso a grande avenida e chego à padaria, entro e logo vejo que o relógio não conseguiu me matar como sempre planeja, cheguei faltando quinze minutos, que maravilha! Para quem consegue sair atraso e chegar quinze minutos antes de começar o serviço, isso é quase um milagre espantoso! Aproximo-me do balcão e peço um copo de café e pão com manteiga, o mesmo de todos os dias. Para diferenciar, algumas vezes, compro um sonho ou outros dos doces que enchem às vistas, mas são caros, por isso é apenas de vez por outra. Hoje, comprei um sonho, vou comer depois do almoço. Depois de engolir tudo com certa pressa, mesmo quem é lento pode se apressar às vezes, saio em destino da empresa que trabalho.

Caminho na rua com passos apressados, mas não resisto, tenho que admirar as lojas, as poucas arvores que ali existem. De manhã é raridade ver um sorriso no rosto de alguém, mas hoje ao ver uma criança de mãos dadas com sua mãe, sorrindo como se no mundo não houvesse problemas e tudo fosse um arco-íris, eu tive que sorrir também. – “Quem me dera voltar aos meus cinco anos!”.

2 – Rápida viajem ao passado.

Não posso deixar de lembrar, como se agora estivesse a acontecer. Na minha casa simples, eu pequenino, acordava sem relógio para me mandar, apenas pela luz que me falava gentilmente: – “Marcos, Acorda menino. Vem cá brincar! Hoje você pode ser bombeiro, policial, médico ou um explorador no quintal de casa.” Minha alma ria-se toda de saudade dessas lembranças saborosas. Por falar em saborosas, não era só a luz gentil que me acordava, tinha algo muito mais saboroso... ah, eu tava me esquecendo. O cheirinho de cuscuz com manteiga, esse vinha me buscar na cama. Eu ia devagar até a cozinha, descalço como a maioria das crianças despreocupadas.

Quando chegava a cozinha, me encolhinha num cantinho, e ficava olhando, bem quietinho, minha mãe de costas, na frente do fogão, fervendo o leite que acompanhava o cuscuz. A mesa já tinha os pratinhos, copos, tudo me esperava para forrar o estomago. Era como se me pudessem gritar: – “Bom dia menino levado!” – Minha boca se enchia de água. Eu continuava lá, quietinho só olhando, ouvindo o ferver do leite, o estalar dos ovos.

Não sei como, mas mãe deve ter um radar. Mesmo com meu silencio, meu respirar que sempre foi calmo, minha mãe sentia minha presença, logo se virava num sorriso puxadinho, que fazia cavinhas no canto da boca. – Mocinho... por quê esta escondido? Tem bicho na cozinha? – Como ela era engraçada, cheia de vida! Ai, minha mãe querida! Você é o que mais sinto falta nessa vida.

Eu corria num abraço apertado, ela parava tudo para que eu pudesse sentir o bater de seu coração. Neste momento eu podia sentir seus braços a envolver-me por completo, que calma agradável, sensação de proteção total contra tudo de mal que este mundo pudesse oferecer.

3 – Retorno ao meu presente.

Acordo do meu momento de viajem ao passado, e me vejo no presente, em frente à porta da empresa que trabalho. Aperto o interfone e ouço a voz desanimada de Alice. – Quem é? – Em seguida respondo: – Sou eu, o Marcos. – Então a porta se abre e subo as escadas até a primeira sala de recepção. Alice me mede com olhar de pouca graça, com óculos que quase escorregam pelo seu fino nariz, dá aquele bom dia mecânico e seco, volta seu olhar para o computador. Sei que ninguém nunca agrada a todos, por que eu faria caso disso? Não. Vou trabalhar que ganho mais.

Desço um lance de escadas mais a frente e chego ao galpão de produção, esta é uma empresa metalúrgica, fabricamos ferramentas cirúrgicas. Minha função é em especial, trocar o lixo, limpar o banheiro, colocar o galão de água no lugar. Parece ser de menos importância, mas não é não. Toda função que desempenhamos bem, acredito ter a mesma importância que a de outros, pois de certa forma, estamos todos ligados e só assim pode-se ter um funcionamento suave da empresa.

Passo cerca de sete horas no trabalho, é meio período, visto que uma hora eu tenho de almoço. Até que a correria é grande e o tempo passa rápido. Após o trabalho pego o ônibus e vou direto para a escola, ainda estou terminando o terceiro ano do ensino médio. Tenho dezoito anos, entrei um ano atrasado na escola como podem perceber.

Muitos dos meus amigos já desistiram de terminar os estudos por estarem trabalhando, mas eu não desisto. Eu sei que posso muito mais do que já faço, tenho potencial e confio nele. O que sempre desejei ser, acredite se quiser, um escritor! Daqueles famosos, com milhares de cópias e dezenas de edições. Eu quero terminar o ensino médio e fazer um curso de literatura, gosto muito de histórias onde impera a aventura e ação; claro que também não dispenso uma boa comédia.

Às vezes o único mundo que possuo, são os livros. Eles me fazem esquecer dos problemas, passarem as horas que de outra forma me trariam tédio, afastam a tristeza de certas coisas ruins que acontecem e me levam a mundos fantásticos onde só a imaginação pode nos levar. Eu adoro ler! Deste amor a leitura, surgiu o amor à escrita. Pena que nunca termino minhas historias, deve ser por falta de tempo, ou preguiça mesmo... Mais pra falta de vergonha! – um leve sorriso. – Mas eu ainda termino, ah se termino!

Por mais cansativo que seja o trabalho, não se compara com a escola. Para mim, a escola é o pior lugar do mundo. Você entenderá quando eu chegar.

4 – Entre os leões.

Cheguei à escola, no mesmo horário de sempre. Ao descer do ônibus começo a andar entre os outros alunos que com pressa entram pelo portão. Só essa pressa já me dá nos nervos, mas é suportável. A canseira, o sono e indisposição após o trabalho são as coisas que mais incomodam meu corpo. Cada noite de escola é uma luta para mim, e como se ainda não bastasse, existem pessoas para infernizar a minha vida.

Quando entro no pátio, eu já sinto instantaneamente um frio gélido por todo o corpo arrepiado, uma certa repugna, uma vontade sem limites de ir embora. Meus pés andam mais lento do que o de costume, quase se pregam ao chão, como se dissessem: – Marcos, vai pra casa! Você ganha mais! – Eu sei que não posso deixar a escola, por isso insisto e ganho desta agonia que me aperta o peito, mesmo assim, continuo, apreensivo, atento a tudo e a todos. O mais difícil ainda esta por vir, entrar na sala de aula.

Chego à porta e paraliso por um instante, olho todos dentro da sala. Meu coração começa a bater muito forte, como se fosse pular pela boca. Estou na jaula dos leões! E não tem mais volta, terei de entrar e me deixar ser devorado.
Mas como sempre, ouço uma voz alegre, cheia de carinho que me faz esquecer por um momento o lugar onde estou, uma moça morena de cabelos compridos cacheados, um sorriso de sol e olhos de pura meiguice. Danni, minha melhor amiga, talvez a única verdadeira amiga que já tive na vida. Muito inteligente, mas às vezes, um pouco louquinha. Essa mistura é encantadora. Antes que você pense que estou apaixonado por ela, entenda melhor a minha vida.

Danni se levanta e sacode os braços sinalizando e gritando literalmente. – Ei! Marcos! Entra logo seu lerdo! Vamos conversar! – Depois dessa gritaria eu prefiro entrar logo antes que ela venha me arrastar pra dentro, por que se eu demorar ela arrasta mesmo. Claro, sento do lado dela, ela me olha com tanta bondade e gentileza que é impossível não gostar dela. Difíceis às vezes que já a vi chorar, pense uma pessoa repleta de alegria, essa é a Danni.

Tenho mais uma amiga, a Clarisse. Menos louca que a Danni, mas também muito alegre. Pena que sua cabeça não ajuda na hora das provas, ai... sabe como é né... eu passo uma colinha pra coitada, assim ao menos uma notinha azul fraquinha ela ganha.

As duas sempre ficam perto de mim, com elas não me sinto só. Conversamos sobre diversas coisas, o que mais gosto é quando por milagre a Danni lê algum livro e vem comentar comigo, neste caso a viagem é profunda e extremamente agradável. Digo milagre por que ela não gosta muito de ler, mas às vezes acontece.

Mas como eu havia dito, minha alegria não dura muito dentro desta cova de leões. Enquanto estamos de boa, sorrindo e conversando, chega a leoa mais desejada da sala, se não for da escola. Não sei por que, mas ela é doida por mim. Eu não faço nada para agradá-la, mal falo com ela, mas ela não sai do meu pé. Alguns rapazes achariam que tenho muita sorte, pois ela é loira de cabelos repicados até o ombro, com aquela franja puxadinha de lado, olhos verdes bem sedutores, dizem os meninos que sua boca parece uma maçã de tão vermelha... acho que é verdade. Sorte... azar, muito azar... certamente. Essa menina, Tamires, já pediu para ficar comigo umas quinhentas vezes, é um pouco de exagero, claro... mas foram muitas mesmo.

Quando Tamires chega, Clarisse que a odeia se cala e volta a virar pra lousa, pois como senta a minha frente, quando conversamos ela vira para trás. Danni alem de detestar Tamires, ainda mostra certo ciúmes no olhar e fica calada apenas encarando-a. Às vezes até eu que sou amigo dela e conheço seu lado meigo sinto medo daquele olhar.

Todo esse evidente desprezo nem respinga sobre Tamires, sabendo que é linda, como se vê e os outros meninos a vêem, ignora Clarisse e Danni, como se nem existissem. Ela vem toda rebolante em minha direção, já sinto o coração pulsar mais rápido. Como sempre faz, levanta um pouco mais a saia e abre mais o decote. – Oieee... tudo bem com você? – Que voz mais melosa, chega a ser preguenta! Eu tento ser educado, por isso dou um leve sorriso e respondo. – Tudo bem sim, obrigado. – Tamires se assanha mais ainda, abre aquele sorriso de “ai se eu te pego”, me dá arrepios. Com as mãos na cintura começa sua fala macia.

– Então... A professora de Inglês passou trabalho em dupla sabe, e sei que suas amigas farão juntas e você ficará sozinho. O que acha de passar em casa para fazermos juntos? – Que convite mais indecente! Sinceramente, ela não tem vergonha na cara! Parece um convite inocente, eu sei, mas os pais dela trabalham fora o dia inteiro, ou seja, ficaremos a sós eu e ela. Imagine o final ardente de prazeres que se passa na mente dela.

Pior do que um convite desses, que para os outros rapazes seria um mundo de realizações e possibilidades, e que para mim não passa de lixo, são as caras do pessoal da sala. Sabe aquelas pessoas intrometidas nos assuntos alheios? Minha sala é repleta desse tipo de gente. Toda vez que Tamires vem toda insinuante em minha direção a sala toda para de conversar e ficam observando, essa cena é constrangedora ao extremo.

Eu sou muito tímido, de poucas palavras. Detesto ser o centro das atenções, prefiro ficar pelo canto apenas observando. Mas sempre, nestas ocasiões me sinto um modelo de alguma peça de museu a mostra para uma platéia lotada e critica! Sensação horrível! Odeio quando isso acontece!

O pior de tudo é que pela minha timidez eu fico sem palavras, vermelho, soando frio e não consigo ignorar os olhares curiosos a minha volta. Ao mesmo tempo fico pensando numa saída, numa boa mentira para sair dessa. Difícil! Sou péssimo mentiroso, mas tenho que tentar. – Sabe Tamires, seria uma boa, só que não posso. Tenho que ir visitar minha tia e vou fazer o trabalho lá ok! Desculpas, mas obrigado pelo convite. – Tento ser gentil. Mas como eu já havia dito, sou péssimo mentiroso, eu gaguejo e embolo a língua, nem sei como as pessoas ainda conseguem entender.

A reação é imediata, a Danni começa a rachar de dar risada, aquela bem sarcástica, bem maldosa, a cara dela! Tamires fica irada e chega próximo a Danni dando um tapa sobre sua mesa, com um tom de intimidação exaspera. – O que é tão engraçado assim? Por acaso esta rindo de mim? – Ah, mas a Danni não fica atrás quando o assunto é barraco. – Por acaso, agora precisamos pedir permissão a você para rir?! Não acha que passou do limite? Eu dou risada quando quiser e não devo satisfações a você! Não vê?! O Marcos não ta nem ai pra você! Deixa ele em paz, que saco!

Tamires era barraqueira, mas não sujava as mãos, era isso que ela dizia: – Não vale a pena sujar as mãos com essa medíocre! – eu acredito que na verdade ela era ruim de briga e morria de medo de perder os tufos de seus belos cabelos loiros. – Logo assumia uma postura de indiferença e novamente me assediava.

Agora era a parte mais bruta, ela com a micro-saia que já puxara mais a cima, sentava sobre minha mesa e erguia uma perna mais acima, por centímetros a sala não via sua calcinha. Talvez passe pela cabeça de muitos: “Uau! Que garota sensual!” – Quer saber, para mim era assim: “Desgraçada, sua vulgar!”. Cada um pensa o que quer não concorda?! Tenho o direito de pensar diferente da maioria.

Garota terrível se esticava com o decote quase na minha cara e sorridente continuava. – Mas podemos marcar para outro dia, afinal... A entrega é só segunda que vem e hoje ainda é terça. O que acha de fazermos no sábado, já que você deve ir visitar sua tia no domingo... Não seria capaz de dar um não... – Que carinha de dó sedutora mais desprezível!

Eu olhava em volta e não via outra escolha, mesmo engasgando, respondi que sim. – Tudo bem então. Vai ser rápido mesmo, podemos terminar tudo em menos de uma hora, ai volto pra casa. – Tamires deu um sobre-salto, seus olhos brilhavam, como o de uma leoa que tem a preza entre seus dentes. – Ótimo! Vai ser muito divertido! – Divertido... imagino o que seria divertido para ela, e acho que não seria nada divertido pra mim. Por responder que sim, os garotos da minha sala ficaram atônicos. Tamires voltou sorridente para suas amigas vulgarzinhas e quando olhei de lado vi Danni, que cara mais triste.
– O que foi Danni? Por quê você esta assim?
– Por nada! – assim mesmo, seca como um dia abafado. – Eu... eu nunca pensei que você Marcos seria como os outros rapazes... me decepcionei!
– Como assim? Como os outros rapazes?
– Como aceitou o convite dessa galinha para ir na casa dela? Você sabe o que ela quer não sabe? Como pode? Se fosse alguma garota descente pelo menos, mas essa bisca!
– Ela já me chama para fazer trabalho com ela a tempo, se eu for dessa vez ela para de me encher... assim ela não poderá dizer que eu nunca aceitei um convite dela entende? Me livro de vez dessa perseguição.
– Ta. – O que acontece é que Danni tava era com muito ciúme, muito mesmo. – Você é um idiota! Isso vai piorar a situação, você vai ver! – Mesmo sentando do meu lado ela virou de costas pra mim e começou a ler as matérias do caderno.

Eu achei melhor não mexer com quem esta com raiva. “Depois passa”. – pensei. A aula começou e tudo foi como sempre. Até que não mexeram comigo muito hoje, apenas um papel que nunca sei de onde vem e sempre acerta minha cabeça, essa pessoa deveria tentar entrar pro basquete ou outra coisa de arremesso, por que fala sério! Infeliz!

No final da aula, eu, lerdamente... guardei meu material e tentei conversar com a Danni, masem vão. Ela me disse até amanhã e se mandou. Puxa, eu não sabia que ela era tão rápida, fiquei pra trás. Clarisse ficou comigo rindo baixinho. – Ai, ai... não esquenta não Marcos, depois passa. Mas sabe, ainda acho que foi uma bobeira ter aceitado o convite da Tamires, tomara que não se arrependa. – Eu também espero que não me arrependa.

Senti algumas sombras muito próximas, no meu encalço. Quando virei para trás, eram eles, os mais idiotas da sala, burros, retardados, tudo isso! Lucas é um bruta montes, fortão gostava de regatas para exibir os músculos, cabelos espetados, parecia um porco espinho. A sua sombra, Caio, o bosta! Não valia de nada a não ser seguir os passos de seu mestre. Tirando os outros dois inúteis que sempre andavam com eles.

Lucas estava todo sorridente.
– E ai carinha?! Mandou bem ein? Tamires a gostosa! Eu até pensava que você não passava de um gay sem futuro. Mas você pelo visto não é um boiola, é um safado que se escondia no armário da pureza. – seguia-o varias gargalhadas. Um bando de cães sarnentos cheios de maldade e dúplice nas palavras e corações.
– Nada a ver, nós vamos apenas fazer o trabalho de inglês e terminando volto pra casa!
– Hum, claro. O garoto purinho... deveria virar padre ou pastor, sua santidade! – risos medonhos sem fim.
Como eu sou idiota, numa hora dessas eu devia dar um de valentão, esbravejar, chutar algo, sei lá... fazer alguma coisa. Mas não sou de brigas também. Prefiro me calar e andar mais rápido.
– Ei carinha! Vê se não decepciona a mina! Faz tudo o que ela quiser e aproveita pra deixar de ser viado!

Como odeio, odeio do fundo do coração essas palavras! São repetidas diversas vezes em minha vida, como se me acompanhassem desde meu nascimento. As pessoas são tão maldosas, injuriadores! Julgam as pessoas pelo que estabelecem para si mesmos. Cretinos! Com certeza devem ter medos, inseguranças e podres, podres fétidos, mas escondem, por que são covardões. Descontam a frustração que sentem de sua falta de qualificações e capacidade nas outras pessoas, acham que eu sou saco de pancadas, e o pior é que sendo esse lerdo que sou, acabo sendo mesmo! Às vezes tenho raiva de mim também.

A semana passa num vento forte. Dia a dia sempre o mesmo, trabalho, escola, chacotas! Sempre. Assédio de Tamires que parecia não ver a hora de me ter a sós. O que será que ela pensa que vamos fazer? Não quero nem saber. A Danni me perdoou depois de dois dias sem falar comigo. Isso em si foi muito bom. Mas o sábado chegava, e a apreensão em mim aumentava.


5 – Um erro terrível!

O sábado chegou, eu já havia pensado varias vezes em desistir, dar uma desculpa qualquer e ficar em paz. Mas ai lembrava dos insultos do Lucas e decidi mostrar que pelo menos medo de garotas eu não tinha. Fui... como um pobre animal para o abate, eu fui até a casa da Tamires. Toquei a campaninha. Tamires logo apareceu na janela e acenou. Em alguns minutos ela já havia aberto o portão e me convidado a entrar. E lá estava eu, dentro da cova dos leões. Até que ela estava mais bem vestida do que na escola, o material escolar estava sobre a mesa e tudo parecia bem. Sentamos e até que foi divertido conversar sobre o trabalho com ela, não sabia que tinha senso de humor. Por um instante fiquei despreocupado. O trabalho terminou, e ficamos de boa, apenas jogando conversa a fora sobre filmes e televisão.

Papo bobo, mas dependendo de com quem a gente conversa, é a única coisa que dá pra falar. Se eu falasse dos meus livros e mundo nerd, ela iria se entediar.

Me levantei e sorri. – Valeu Tamires, foi bom fazer o trabalho contigo. Agora já vou indo que o tempo passa rápido. Quero dormir cedo que amanha tenho de acordar cedo. Tamires deu um leve sorriso, mas seu olhar era muito sinistro, era como uma cobra que esta mirando uma vitima. Quando menos pensei, ela já estava sobre mim. Me derrubou sobre o sofá de sua sala, me beijou e começou a subir a blusa. Que situação. Nunca me imaginei ser pego por uma garota daquele jeito. Se uns pensam que isso era exótico, vulcânico e delicioso, para mim era nojento, insuportável!

Eu empurrei-a para o chão, que queda, um enorme tombo. Levantei-me aturdido. Por alguns segundos fiquei em estado de choque, então se tornou ira, muita ira. Joguei as almofadas na cara dela e me afastei para a porta. Não agüentei mais, mesmo sendo tímido e lerdo, desta vez eu não era mais eu.

– Sua idiota! O que estava pensando?! Achou mesmo que eu iria... iria fazer aquilo com você?! Você é louca, retardada! Eu estava pensando até que podia ser uma pessoa boa, mas me enganei. Você é uma vagabunda! – Peguei meu material e sai daquela casa tão enojado dela, de mim mesmo. Horrorizado! Eu jamais na minha vida havia beijado uma garota na boca, nunca. Ainda mais daquela forma! Ela parecia um animal. – Enquanto eu saia horrorizado, desorientado, Tamires ficara sentada no chão chorando. Humilhada, ela se sentiu assim, humilhada. Nunca, nenhum cara havia negado sexo a ela. Nunca até aquele dia. Eu fui o primeiro a dizer não.

Passei o domingo todo perturbado. Ficava pensando e pensando. – “O que há de errado comigo? Qualquer garoto normal gostaria de estar em meu lugar, mas eu... eu não gosto dela. Eu não sinto desejo por mulheres... será que sou gay? Mas... eu também não sinto desejo por homens... o que sou? Será que tenho alguma doença?!”. – Esse foi meu péssimo domingo. Deprimente.

Só não sabia que a segunda-feira seria pior. Trabalhei daquele jeito, tomei bronca toda hora. Deixava as coisas caírem no chão, atrasava mais do que de costume, estava distante.

Na escola, quase não passei pela porta. Só entrei por que a Clarisse chegou ao mesmo tempo que eu e me puxou pelo braço. – Vamos Marcos! Já estamos ficando atrasados! Hoje tive que fazer hora extra e sai correndo do trabalho, afff... vamos!

Entrei na sala e logo notei, olhares e olhares para mim. Primeiro vi o olhar da Danni, me observava com pena, tristeza, sombria, não sei dizer. Clarisse também percebeu, mas apenas sentou. Todos os outros olhares eram de desprezo, zombaria, desdém. Me senti uma criatura estranha em meio a um monte de cientistas sedentos por sangue, sedentos para me dissecar e descobrirem de que sou feito.

Tamires estava com um olhar odioso a minha direção. Lucas e os outros idiotas do seu grupo me secavam com os olhos desejosos de humilhação. Mas a aula se seguiu. No intervalo, no entanto, desci e me sentei num dos bancos com Danni e Clarisse. Danni tava tão pensativa. Eu não pude deixar pra lá e perguntei.
– O que foi Danni? Por quê você esta tão calada? – Ela demorou um pouco em me responder. Mas finalmente saiu... saiu uma pergunta que eu preferia não ter escutado.
– Marcos... você é gay? – Me engasguei com a própria saliva, quase fico sem ar. – Co-como?! Gay?! Não! Por quê você esta perguntando isso?
– Calma. É por que a Tamires espalhou hoje de manhã, no orkut e no facebook que você é gay, pois foi na casa dela e não quis fazer sexo com ela. Por um lado eu achei foi bom, mas por outro...
– Por outro o quê?! Eu já disse que não sou gay, e mesmo que fosse não seria motivo para virar chacota!
– Então o que você é? Você não gosta de garotas!
– Mas também não gosto de garotos!
– Não dá pra entender... olha que já tentei.
– Eu... não sinto desejo nenhum, eu gosto muito de você, por exemplo, da Clarisse, mas não sinto desejo de fazer aquilo com vocês.
– Por quê você fala aquilo? É sexo certo!
– Por que eu não gosto de falar essa palavra. Eu a acho suja, não sinto curiosidade de fazer isso, nem de falar sobre isso! Caramba! É tão difícil entender?! Não sou um alienígena só por ser diferente!

Danni pareceu não entender ainda, talvez por que ela quisesse que não fosse verdade. Já Clarisse estava normal. Apenas segurou no meu ombro e me abraçou.
– Calma ai maninho... eu sei o que você é, vi uma vez na tv falando sobre isso. Você é um purino, pessoas que não sentem desejo sexual, não são gays, apenas não tem sexualidade. Não sentem desejo ou prazer nisso. Normal, existem pessoas que adoram chocolate, e por mais impressionante que seja, existem pessoas que não o suportam. O mesmo se dá com você. De boa, não liga para os boatos.

Gostei de ouvir isso. Me confortou, me fortaleceu. Me senti mais humano e normal. Mesmo que creio que nunca deixei de ser normal. É normal não gostar de certas coisas. Cada pessoa tem direito de decidir o que é melhor para si contanto que não prejudique ou desrespeite outras pessoas. Mas não durou muito. As chacotas foram aumentando, passaram a escrever coisas horríveis sobre mim na lousa, nas paredes da escola, até no chão do pátio. Postaram fotos minha, fizeram montagem com outros homens, fotos obscenas. Por onde eu passava era ridicularizado, humilhado, não estava mais aguentando isso.


6 – Fim trágico.

Parei de ir à escola. Mas como se espalhou pela internet, até no trabalho que quase não tínhamos tempo para nada, começaram a achar tempo e me zoarem. Na rua onde eu passava alguém apontava o dedo. Riam. Eu passei a andar de cabeça baixa, aos poucos não quis mais andar na rua também. Deixei de atender os telefonemas de Danni e Clarisse, não queria mais ver ninguém, não queria mais viver.

Se hoje estão lendo essas palavras, podem ter certeza... não estou mais aqui. Não consegui terminar meus estudos, não consegui ser o escritor que desejava tanto... não pude ser mais nada, apenas uma lembrança apagada na memória dos que um dia me conheceram.

Sempre tive fé de que não importa o que acontece na morte, deve haver paz. Sempre fui diferente. O cemitério é lugar de suspiros, tristeza e medo para muitos. Para mim, é lugar de descanso e paz, onde não existe quem nos humilhe, nem nos magoe que nos faça mal. Agora estarei em paz. Só espero que esse único livro ou conto que escrevi, possa de alguma forma tocar os corações de pessoas criticas e maldosas, para que pensem antes de maltratar uma pessoa, pois o que pode parecer brincadeira para você, pode acabar com o coração de outra pessoa.

– Com essas palavras, eu encerro este discurso de formatura, onde Marcos poderia estar aqui se não fossem os olhos maldosos, as zombarias cortantes e os risos impiedosos. – As lágrimas e soluços de Danni não podem ser tapados, são um rio que escorre em seu rosto sem fim. Todos os presentes começam a chorar, mesmo os olhos outrora sinistro derramam lagrimas, pelo menos neste momento mostram-se compreensivos, empáticos. Mas agora é tarde de mais, Marcos se foi.

– Eu peço respeito! Amor! Bondade! Sejamos pessoas melhores! Podemos ser! Assim, evitaremos perder pessoas tão especiais, com tantos sonhos que foram interrompidos, como meu amigo Marcos. Eu lamento a ignorância humana, a estupidez humana, a hipocrisia humana. Essas páginas foram encontradas do lado do corpo de Marcos após ele se envenenar e morrer. Este livro esta terminado, pena que tenha sido o primeiro e o ultimo livro de Marcos.




Fim.

Daisy Fox

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